sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Homenagem a Reynaldo Jardim






A Associação dos Amigos e Reynaldo Jardim (Arrey) lembrou o sétimo dia da morte do poeta e jornalista com um recital aberto à comunidade com a participação de Chacal, Nicolas Behr, João Antônio, Carmem Moretzsohn, Guilherme Reis e Angélica Torres, que declamarão poemas e lerão textos de Reynaldo Jardim e Renato Matos e Janete Dornellas na programação musical.


O filme Profana Via Sacra, de Alisson Sbrana, premiado no 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, tem exibição na mesma noite.



A homenagem aconteceu nesta segunda (7 de fevereiro),  no Auditório do Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios).
 Poema Visuais de RJ.

TATU E A MOÇA
Pela de R.J. na I BIP, 2009
 
REYNALDO JARDIM

Toda a obra do artista e poeta está agora compilada na monumental antolggia SANGRADAS ESCRITURA (Brasilia: StarPrint, 2009), com 1170 páginas, a maioria a cores! Poemas discursivos e visuais de todas as épocas.  A seguir, alguns exemplos:

MORADIA 
REYNALDO JARDIM

REYNALDO JARDIM
QUE É ISSO?


ÍNTIMA GRAFITE
Texto e gravuras de
Reynaldo Jardim.
 Projeto gráfico de Alisson Sbrana. 
Brasília:  FAC, 2010.  76 p.  ilus.col.
 
Mais um livro do nosso criativo, divertido e — por que não reconhecê-lo — genial poeta Reynaldo Jardim: multifacético experimentalista das linguagens intergenéricas, que vão da poesia às artes plásticas, às artes gráficas. Íntima Grafite é um livro para o olho e para as sensações mais ingênuas e sutis de nossa percepção estética. Que será que ele estará aprontando depois desta nova revelação? Já andou pelo cordel, pela poesia lírica, pelo texto infanto-juvenil, pela multimidia e até inventou um idioma para seus poemas sdque só ele conhece, mas que ao ouví-lo, não ficamos indiferentes...
Aqui vão dois exemplos mais recentes de sua criação.  

Outros Poemas:

O som embutido na matéria  
O Som se oculta no
Lenho da madeira,
Cordas de piano,mesa
De bar,corpo de cristal
Ou vidro ordinário,
Se esconde,o Som ,nos
Másculos do corpo,couro
Do tamborim, no
Stradivarius, ossário
Dos animais carnívoros
Ou não.
Em silêncio o Som
Aguarda que o libertem
Da matéria bruta ou
Manufaturada, para
Expressar sua angústia,
Melodia, ruído ,linguagem
Áspera, doce , requintada ,
Basta um leve toque
No atabaque, da baqueta
Na pele tensionada
Do surdo para que
Ele,o Som,rompa a
Mortalha e vibre no ar
O ritmo do samba sincopado.
Ele ,o Som,grita quando
A porta bate forte no
Batente e se desespera
Quando mãos desajeitadas
Foram, dele o irritante
Arranhar de lixa polindo
A ferrugem das cascos
Dos navios.
O Som implora que
Todos o tratem com
A delicadeza de um
João Gilberto.


Maternal

Ela se deita,
Diz que não se importa
E deixa a porta
Escancarada e nua
Ela projeta
Uma sombra torta,
Iluminada pela luz da rua.
A lua bate e ela
se comporta
Como se a lua fosse
Seu cachorro
que amestrado
Lhe beijasse a boca,
que sensitivo
Lhe aplacasse o choro.
E esse quarto
vira uma loucura
de bocas,de cachorro
de ternuras
de luas espalhadas
Água em chamas.
No incêndio dourado
de seus pêlos
queimam-se desvarios
e desvelos.
O mel de leite
Brota em suas mamas. 

De
CANTARES
PRAZERES
Brasília: Artway, 1986.

DESAMORES
     Quero me despojar
     de tudo o que não tenho.
     Limpar meus horizontes
     de artes e de engenho.
     Quero me desfazer
     de tudo o que não tive.
     A certeza certeira
     de quem viveu não vive.
     Quero me entristecer
     de alegria e calma.
     Olhar no espelho e ver
     a cara de minha alma.
     E quero dessofrer
     o que nunca sofri.
     O gosto do prazer:
     sumo de sapoti.


SONETO TRAVADO

O que será que ela me ama,
se a impudência da ternura,
o quando vou, a volta escura,
esse parir quando me chama?

O que terá que assim me odeia,
por que se faz de alegre e raiva,
sendo a distância que desmaia,
por que me aranha em sua teia?

O que faria se me esquece
e já me fere da esquivança,
senão me erra o que padece:

a manhã cedo em cada prece,
a fúria azul dessa lembrança,
o calendário que enlouquece.


BETA

Ora que não se dá,
ora que não se deu.
Posto que não se é
aquilo que se perdeu.
Visto ser como fica:
figo, água, leite, aço,
perde se corporifica
as auras  de seu espaço.
Mas se libera, excitada,
suas vergonhas de sede,
o gosto da vida embala,
range o balanço da rede.
E ao perfume do incenso,
a maresia salgada,
soma seus cheiros de argila
o ar da manhã molhada.


ESPONJA

Um átimo de vida
que flor se repartisse
e vivo quanto fosse
em dor se refizesse
para depois repor
em flor se reflorisse
num átimo de tempo
a vida nova cresce
na forma original
que assim reaparece
e tudo volta igual
qual tudo nada fosse
o mesmo que não fora
a esponja nem percebe
a forma que estoura
a sua própria norma
e volta a constelar
o que contém a forma.


De

coleção de poeta
apresenta
Reynaldo Jardim


(folheto e CD)

Círculo de Brasilia Editora, 2008
(Editor: Alex Cojorian)
SE EU QUISER falar com deus
Se eu quiser falar
com Deus,
tenho que abaixar a crista,
tenho que seguir à risca
o que o Gil me ensinou.
Tenho que aguardar na lista
minha vez, minha
audiência.
Uma vaca de paciência,
ruminando meus pecados.
Quando chegar a minha vez,
tenho que soltar o grito.
Pois daqui ao infinito,
Deus não vai me escutar.
Ele está ficando surdo,
já não enxerga direito,
constrangido e contrafeito
com o mundo que criou.
Antes de falar com Deus,
eu arrumo um pistolão.
Pode ser Antonio ou João,
qualquer santo de prestígio.
Tenho que levar presentes,
minha alma, meu delírio,
a luz acesa de um círio
que ele está na escuridão.
Se eu quiser, mas eu

não quero,
que esse Deus é prepotente.
Ele é onipresente,
só não está onde eu estou.
Se quiser falar comigo,
não atendo ao celular.
Não deixo a mesa do bar,
que esse chope está demais.
Eu só vou falar com Deus,
quando ele matar a fome
dessa criança sem nome,
que não pára de chorar.
Quando ele descer do céu
e vir que cada menino,
sem presente, sem destino,
precisa de um beijo seu.

O silêncio é sórdido
Deus criou o ruído, o marulhar,
o estrondo, canto de pássaros,
som cosmogônico, gemer do vento,
farfalhar das folhas, sonora eloqüência da vida.
Deus sempre foi ruidoso.
O demônio inventou o silêncio
letárgico, letal.
Punhal insensível cravado em si mesmo.


Da Pele

O que está na pele
que a pele não entende:
a suave canção
que outra pele acende.
Alguma ilusão
de ser limite e casca.
O campo onde o ar
tangencia, ultrapassa,
perfura para dentro,
transiciona para fora,
acende no suor
a fauna de sua flora.
Os fios de estanho
em eletricidade.
Algum rubor estranho,
essa motricidade.
Não entende as aberturas
para dentro do soma.
O sim de seu avesso,
o pão de seu aroma.
A peneira dos poros,
a poeira dos talcos.
A proteína achatada
dançante sem seu palco.
Nem porque está morta
se é de vida seu dia.
Ou porque num repente
sob o sol se arrepia.


PaSSaporte falso

Você escondeu de mim a minha imagem,
você marcou em mim o desespero.
Você buscou em mim sua coragem,
você deixou em mim seu desmazelo.

Minha imagem ficou no seu espelho,
o desespero gravou-se na rotina.
Minha coragem é um escaravelho
devorando o refugo na surdina.

O que eu fiz de mim foi crueldade,
deixei meu corpo aberto à sua sanha.
Sou um produto já sem validade
estrangeira de mim em terra estranha.

Você  me deu um passaporte falso,
me desembarcaram no primeiro porto.
Pego carona no próximo barco,
e faço o parto do meu próprio corpo.

Tenho que renascer urgentemente,
esquecer que você foi o meu vício.
De hoje em diante a busca do prazer,
vai ser, por toda a vida, meu ofício.


Brilhos

A palavra brilha
(repentina brilha)
onde repentina
fulgurante brilha?
Na boca do estômago,
na garganta seca,
no ar respirado,
na vulva, na teta.
Onde dá o bote
e sacode o guizo?
Na fronte, na mente,
lábios ou juízo?
É a castanhola?
Cascavel safada?
— Crótalo!
E a sua faca
já está cravada.


Guerra na gruta

— Vronsq! Artevesq berra entrando na gruta
— Escri! Responde o bárbaro do fundo
Quem pode soluçar no grascorundo
Grishar income dieritar-se em bruta

Vronsq de crisq ferra o matrimônio
Frinca o quetar enda o pirone
Salca o Critillo em cataloscópio
Frinca a gratera: entertelapo

Ongra! Vrens! Grisf! Vortobendo
Sim finilong sinfinilong sinfinilong

Ara de gretas fricat incortelura
A gresta fita e poduratavis
Gronsqu e Vronsq se derramara


Hino Nacional Alternativo
(1988)

Música- Jorge Antunes

Letra- Reynaldo Jardim

Da paisagem ferida,
da criança lesada,
da mulher soluçando,
homem triste na estrada,
desta terra traída,
pobre gente humilhada,
há de bela explodir
a nação libertada.

Seja o choro incontido
um clamor de alegria,
seja o tempo sofrido
as raízes do dia.

Seja o canto emotivo
a paixão rebeldia,
no trabalho do povo
é que o povo confia,
há de o povo cantar
o Brasil renasceu,
nossa pátria é você,
minha pátria sou eu.



OTO DIAS BECKER REIFSCHNEIDER*
ESPECIAL PARA O CORREIO


         Cheio de vida, cheio de ideias, faleceu Reynaldo Jardim.Meu conhecimento do poeta e jornalista se deu no fim de 2007, pela compra de livros seus num sebo em Brasília que havia arrematado a biblioteca do artista Rubem Valentim—uma das tantas tristes histórias de descaso com nossa cultura. Conversei exatamente três vezes com ele:

         – em 2008, na 1ª Bienal de Poesia, organizada pelo prof. Antonio Miranda na Biblioteca Nacional de Brasília, onde Reynaldo foi homenageado. Levei, para a inauguração, o livro Particípio presente, editado em 1954 numa tiragem de apenas 120 exemplares, que eu comprara num golpe de sorte em São Paulo. Reynaldo ficou surpreso ao ver o livro, me disse que não possuía cópia, chamando os filhos para conhecerem a obra. Eu procurava um outro trabalho seu, um livro de poesia concreta de 1959 intitulado Science fiction .
Ele disse que tinha um exemplar para me dar.
Peguei o contato de um de seus filhos para combinarmos um encontro, mas a coisa não deu certo, não me lembro se perdi o telefone ou o que aconteceu.

         — Nosso segundo encontro foi na comercial da 302 Norte. Vi Reynaldo atravessando  a rua, corri atrás. Conversamos rapidamente e, dessa vez, foi ele quem pegou meu contato (acho). De qualquer forma, a segunda vez também não deu em nada. Eu, depois de nossa conversa, saí correndo para buscar o Joana em Flor, para que ele autografasse para mim, mas quando desci já era tarde.

         — Como dizemos americanos, the third time’s the charm. Consegui seus contatos, telefonei para ele. Marcamos para o mesmo dia, de manhãzinha, em sua casa — foi em novembro do ano passado. Assim que cheguei à sua casa,me aguardava uma pilha de livros seus, com os quais me presenteou — hoje tenho suas obras completas, em livro. O mérito, aliás, de ter conseguido o livrinho de 1959 é de sua esposa, Elaina, que ao longo dos anos garimpou e guardou com carinho essas raridades.

         Não digo que passei a manhã toda com ele, pois metade do tempo estava ocupado ao telefone, sendo requisitado para questões das mais variadas, como foram diversas as temáticas de nossa conversa. Lá pelas tantas, Reynaldo parou, olhou para a mesa, para o bufê (cheio de livros), tateou entre os papéis e proferiu: “Acabou o combustível! ”  Não havia mais cigarros, charutos ou cigarrilhas; saímos para comprá-los.

         Estava trabalhando com desenhos e recortes para um próximo livro de poesias e tratando de sua ida a São Paulo, para receber o Jabuti—segundo colocado com seu Sangradas Escrituras, verdadeira bíblia da poesia de Reynaldo. Iria para a capital paulista de carro, fazia décadas não entrava num avião. Contou-me que inicialmente não tinha problema algum em voar, mas sua primeira esposa era tão apavorada que o medo o acabou contaminando. 
Pensou mesmo em recusar o prêmio, ou aprontar alguma durante a premiação,mas, por apelo da família e de amigos, resolveu não contrariar — o amor, tão cantado  por   Reynaldo em sua poesia, venceu a irreverência.


*Oto Dias Becker Reifschneider, 31 anos,
brasiliense, é bibliófilo, graduado em história e doutorando em biblioteconomia.



[Reynaldo Jardim, foi um jornalista e poeta brasileiro nascido em São Paulo, no dia 13 de dezembro de 1926, e falecido em Brasília, em 1º de fevereiro de 2011 [1]. Reynaldo Jardim faleceu aos 84 anos de idade, em decorrência de complicações causadas por aneurisma na artéria aorta abdominal. Ele estava internado no Hospital do Coração, de Brasília [2].

Foi redator das revistas O Cruzeiro e Manchete;

Exerceu cargos de chefia na Rádio Clube do Brasil, na Rádio Mauá, na Rádio Globo e na Rádio Nacional no Rio de Janeiro e na Rádio Excelsior de São Paulo.

Realizou reformas gráficas em jornais como A Crítica (Manaus), O Liberal (Belém), Gazeta do Povo (Curitiba), Jornal de Brasília (Brasília) e Diário da Manhã (Goiânia).

Em Brasília, foi editor do caderno Aparte, do Correio Braziliense e diretor executivo da Fundação Cultural do Distrito Federal.

Participou, nos anos 50, da Reforma do Jornal do Brasil - onde criou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o Caderno de Domingo e o Caderno B.

O SDJB tornou-se o mais importante suplemento literário de poesia concreta do Brasil, por onde passaram Oliveira Bastos e Mário Faustino.

Ao ser obrigado a deixar o JB, em 1964, devido à repressão militar, Reynaldo Jardim foi diretor da revista Senhor e diretor de telejornalismo da recém-inaugurada TV Globo. Já em 1967, criou o jornal-escola O Sol com textos criativos e projeto gráfico inovador.

Viúvo do primeiro casamento, no qual teve dois filhos: Teresa e o filho falecido Joaquim, Casou-se com a jornalista Elaina Maria Daher que mesmo trabalhando fora e cuidando da casa dá todo apoio à arte do marido. Elaina gosta de dizer: "Eu me preocupo com as coisas sem importância, como pagar as contas e fazer supermercado, enquanto o Reynaldo se preocupa com o que é importante, como física quântica, poesia moderna e o cosmos" Chegou em Brasília aonde vive com a mulher e os seus três filhos (Rafael, Gabriel e Micael), em 1988.

Reynaldo Jardim manteve coluna diária de poesia de 2004 a 2006 no Caderno B do Jornal do Brasil Em 1968 havia tido a mesma experiência, de um poema por dia, no Jornal de Vanguarda, exibido pela TV Rio quando, ao vivo, comentava em versos o acontecimento mais importante do dia.

Escreveu alguns livros de poemas, entre eles: Paixão segundo Barrabas, Maria Bethânia Guerreira Guerrilha, Joana em flor, Viva o Dia, Cantares Prazeres, Lagartixa escorregante na parede de domingo.

Fontes: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reynaldo_Jardim; Jornais Diversos e o Blog de Antonio Miranda

sábado, janeiro 01, 2011



Alberto António Teta Lando

Cantor e Compositor
1948-2008

Filho de um rico fazendeiro do Uíge (Alberto Teta Lando), descendente da família real do Reino do Congo, Teta Lando cresce numa família que reúne 32 irmãos. Em 1961 com apenas 13 anos, vê o pai ser cruelmente morto no início das lutas pela independência. Uma memória traumática que marcará a vivência da sua vida e que soube transformar em músicas vanguardistas que inspiram para a necessidade de Paz, Irmandade e União do Povo Angolano. (Angolano segue em Frente, Irmão ama o teu Irmão, Funge de Domingo, Esperanças Idosas).

Teta Lando, que em adolescente já actuava em festas escolares, estreia-se como cantor em Lisboa. O primeiro disco é um sucesso, obtendo o 1º disco d’ouro em Angola em 1974, colocando-o logo entre os melhores músicos angolanos. Porém, forçado pela Guerra de Independência em 1974, vê-se obrigado a exilar-se, viaja pelo mundo inteiro e instala-se em França durante mais de 20 anos, onde brilha profissionalmente ficando mais de 2 meses no primeiro lugar do top África com o título “Sonho de um camponês”, verdadeiro Hino o amor a Terra, que soube tocar os corações dos Africanos no seu todo.

Na longa carreira obteve êxitos inesquecíveis como "Um assobio meu", "Negra de carapinha dura" e “Funge de Domingo”. Promovendo a Dignidade e Irmandade no seio dos artistas, é eleito em 2006 Presidente da União dos Artistas e Compositores. Morre em 2008 em Paris, na sequência de um Cancro do Pulmão fulgurante!!! mas as suas canções em Português, Kimbundo e Kikongo, reunidas na colectânea "Memórias", continuam a inspirar-nos.

Texto gentilmente cedido por Nanyotamo de Haltermar dos Santos Teta Lando, filho do cantor.

Alberto Teta Lando (June 2, 1948[1] - July 14, 2008) was an Angolan musician.
He was born in Mbanza Congo, the capital city of Zaire Province in the north of the country, and is Bakongo. He is not well-known outside Portuguese-speaking African countries and Portugal itself.
His music focused on Angolan identity, the country's civil war, the saudades (nostalgia, melancholy and longing) of Angolan exiles, as well as young love and family. He spoke and sung in both the Portuguese and Kikongo languages. Among his most well known songs were "Irmao ama teu irmao" ("Brother, Love Your Brother") and "Eu vou voltar" ("I Will Return").
He died in Paris, France, on the 14th July 2008, after battling cancer. During the last several years of his life, he managed to re-unite a group of many Angolan musicians. [2]


sábado, outubro 30, 2010

Luiz Lua Gonzaga

A realeza incompreendida de Luiz Gonzaga


Luiz Gonzaga viveu 76 anos e partiu em 1989, deixando atrás de si um legado monumental, talvez o maior de toda a música brasileira do século passado. Para qualquer um que conheça com profundidade a obra do coautor e intérprete original de "Asa Branca" (1947), a constatação é óbvia – mas curiosamente sua obra não é das mais citadas, conhecidas ou admiradas entre aqueles que costumam se debruçar com seriedade sobre a música popular brasileira.
Gonzagão foi um dos artistas mais populares do Brasil ao longo de quase cinco décadas de atuação profissional, entre 1941 e 1989. Continua onipresente, como atesta o sucesso de seus baiões, xotes e xaxados nas festas juninas pelo país adentro, em pleno 2010. Mas uma cisão inaugurada antes de ele nascer em Exu, no sertão pernambucano, ainda persiste: o Sudeste e o Sul do país não compreendem (ou não demonstram compreender) a grandeza do "rei do baião". O Brasil dito cosmopolita que admira Antonio Carlos Jobim não consegue, não quer ou não admite admirar Luiz Gonzaga e seu Brasil sertanejo.
A convivência não-pacífica tem raízes históricas tão profundas quanto a dor escondida atrás de forrós gonzaguianos como "Assum Preto "(1950), dos versos "tarvez por iguinorança/ ou mardade das pió/ furaro os óio do assum preto/ pra ele assim, ai, cantá mió". Gonzagão despontou na era Getúlio Vargas, em meio à Segunda Guerra Mundial e à Política da Boa Vizinhança, pela qual os Estados Unidos nos acostumavam a gostar mais de Frank Sinatra e Hollywood que de nós mesmos. Surgiu na Rádio Nacional do Rio de Janeiro de sanfona em punho, com roupas de vaqueiro, chapéu de cangaceiro e alpercatas de couro – foi asperamente repreendido pelo diretor e por um período teve de associar o acordeon a um sisudo smoking.
O jovem sertanejo saíra de casa aos 18 anos para se incorporar ao Exército, fugira em seguida para o Rio e se iniciara como artista profissional abafando a própria origem e tocando tangos, boleros e valsas em prostíbulos da zona do mangue carioca. Após cinco anos como mero instrumentista na gravadora RCA, pôde reincorporar, graças ao sucesso de "Asa Branca", a própria identidade e as vestes de Lampião.
Estilizou a música nordestina de sanfona, triângulo e zabumba a partir de "Baião" (1949) e virou herói nacional com uma sequência formidável de sucessos nordestinos: "Juazeiro" (1949), "Qui Nem Jiló" (1950), "Boiadeiro" (1950), "Olha pro Céu" (1951), "Paraíba", "Pau de Arara" (1952), "O Xote das Meninas", "Vozes da Seca" (1953), "Riacho do Navio" (1955), "Forró no Escuro" (1957)...


De rei a brega
Gonzagão se tornou hegemônico no Brasil dos anos 40 e 50, a ponto de virar moda entre meninas de sociedade tomar aula de sanfona, como mostra uma cena do documentário O Homem Que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira. Não foi à toa que os militantes da revolução universalista da bossa nova, a partir de 1958, lutaram incansavelmente por extirpar a sanfona da música brasileira. De modo geral, os garotos cultos e educados de Ipanema consideravam de "mau gosto" a arte popular praticada por gente como Gonzaga e Jackson do Pandeiro (ironicamente, o líder natural do movimento era um sertanejo baiano de Juazeiro, João Gilberto).
O confronto era mais que musical, era uma guerra de classes sociais. Ainda hoje, meio século depois, o forró é subliminarmente tratado como um gênero musical das classes subalternas. Carrega multidões às casas nordestinas da periferia paulistana, mas nem por isso encontra espaço nos meios de comunicação do eixo Rio-São Paulo.
Gonzagão pulou por cima de todo e qualquer obstáculo porque adotou a brasilidade (e, em particular, a nordestinidade) como modo de ser e se expressar. "Lá no meu sertão pro caboclo lê/ tem que aprender outro ABC/ o jota é ji, o ele é lê/ o esse é si, mas o erre tem nome de rê/ até o ipsilon lá é pissilone", ensinava sua própria língua em "ABC do Sertão" (1953).
Entendido por vezes como um cultuador da ignorância, transformou sua própria falta de educação formal em combustível para campanhas musicais pró-educação, como em "Acordo às Quatro" (1979): "E os menino, digo sempre à Iracema,/ em Santana de Ipanema todos os três vai estudá/ pois eu não quero fio meu anarfabeto/ quero no caminho certo da cartilha de ABC/ eu memo nunca tive essa sorte/ mas eu luto inté a morte mode eles aprendê".
Os detratores estigmatizaram-no como um entusiasta da ditadura militar, o que de fato ele foi. Mas Gonzagão era bem mais complexo do que a MPB de extração universitária desenvolvida a partir dos anos 60 se dispunha a admitir. Como a média dos brasileiros, era um governista por natureza, desde quando serviu à pátria e a Getúlio Vargas (o que não o impediu de trocar a farda de soldado pelos trajes de cangaceiro, para seguir sua intuição artística).
Em 1959, sob o governo de Juscelino Kubitschek, deu voz à "Marcha da Petrobras": "Brasil, meu Brasil,/ tu vais prosperar, tu vais crescer inda mais com a Petrobrás". Dois anos depois, em "Alvorada da Paz", celebrou o adversário que sobrepujou JK: "Jânio Quadros, tu és um soldado/ sentinela da democracia/ o Brasil foi por ti libertado/ reação nacional, valentia".
Católico fervoroso e devoto de Padre Cícero, lançou o hino religioso-ufanista "Rainha do Mundo", em 1964. A letra, que na origem poderia parecer de resistência ao golpe militar, ganharia significado adesista ao ser regravada, já em 1967: "Senhora rainha do mundo/ rogai por nós nesta terra varonil/ agora e na hora de lutar pelo Brasil/ não deixeis que ninguém ponha a mão/ neste auriverde pendão/ (…) olhai e amparai esta terra de liberdade".
Acossado pela bossa nova, que o jogara a escanteio, tornou-se hostil aos movimentos modernizadores e às palavras de ordem que a MPB universitária encampava. Em 1968, afirmou, num "Canto sem Protesto": "Pode dizer que eu não presto/ que não presta o meu cantar/ meu canto não tem protesto, meu canto é pra alegrar". No mesmo disco, explicitou o ressentimento contra quem o interpretava como um porta-voz do atraso e advogou um "Nordeste pra Frente", antecipando em dois anos o "pra frente Brasil" de 1970: "Senhor reporte, já que tá me entrevistando/ vá anotando pra botar no seu jorná/ que o meu Nordeste tá mudado/ publique isso pra ficar documentado/ (...) Caruaru tem sua universidade/ Campina Grande tem até televisão/ Jaboatão fabrica jipe à vontade/ Lá de Natar já tá subindo foguetão/ (...) o meu Nordeste desta vez vai dispará".
Podia até combater a canção de protesto, mas tinha um filho que se consolidava como cantor de protesto. Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, mantinha relação conflituosa com o pai, mas desde 1968 passou a ter presença constante em seus discos. O mesmo LP que trazia "Canto sem Protesto" trazia também "Pobreza por Pobreza", de Gonzaguinha, uma autêntica canção de protesto.
À mesma época, uma facção da MPB universitária voltou-se contra a corrente e promoveu um levante de revalorização de Luiz Gonzaga. Ele virou referência crucial para os tropicalistas baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa no período de exílio dos dois primeiros. O patriarca demonstrou gratidão e em 1971 dedicou o disco O Canto Jovem de Luiz Gonzaga à nova geração da MPB, regravando canções de Gil, Caetano e Edu Lobo. Num tapa com luva de pelica a quem o chapava como reacionário e direitista, gravou também "Fica Mal com Deus", do ícone das esquerdas Geraldo Vandré. Mais: quando se deu a anistia, colocou num compacto de 1980 uma versão em tempo de ópera sertaneja do hino antiditadura "Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores" (1968), que levou Vandré à glória, ao ostracismo e à mudez.
Em 1981, pai e filho se uniram no show "A Vida do Viajante", e Gonzaguinha proferiu um discurso revoltado em defesa de Gonzagão, como está registrado no disco ao vivo: "Este show coloca para fora pelo menos um pouco da história de um dos maiores artistas que se tem conhecimento neste país. Essa pessoa é o artista talvez mais popular deste país. No entanto, é uma das pessoas mais marginalizadas através dos tempos, que foi afastada em determinado tempo de determinados horários e que não teve a possibilidade de pisar em determinados palcos ditos mais sadios".


Discriminado, mas sempre com sucesso
À parte o esforço tropicalista e a adesão constante de artistas como Clara Nunes, Fagner, Belchior, Elba Ramalho, Milton Nascimento, Baby Consuelo, Alceu Valença, Fafá de Belém e Quinteto Violado, Gonzagão cumpriu os últimos anos de vida apartado como sempre dos circuitos mais, digamos, cultos. Continuou apresentando sucessos um atrás do outro ao grande público, em palcos bem mais "sadios" do que seu filho se dispunha a reconhecer. A bossa nova jamais se reconciliou com Gonzagão, mas o Brasil profundo nunca parou de cantar "Ovo de Codorna" (1971), "O Fole Roncou" (1973), "Capim Novo" (1976), "Viola de Penedo" (1978), "Forró No 1" (1985), "Forró de Cabo a Rabo" (1986), "Nem Se Despediu de Mim" (1987). "Pagode Russo", de 1984, foi a música mais tocada nas festas juninas de 2009.
O que ele pensava sobre segregação, desprezo, preconceito e discriminação ficará para sempre registrado como alegoria no forró "O Jumento É Nosso Irmão", de 1968, retomado em 1976 como "Apologia ao Jumento", com o seguinte discurso de protesto: "O jumento é nosso irmão, quer queira ou quer não. O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão. Ajudou o homem na lida diária. Ajudou o Brasil a se desenvolver. Arrastou lenha, madeira, pedra, cal, cimento, tijolo, telha. Fez açude, estrada de rodagem, carregou água pra casa do homem, fez a feira e serviu de montaria. O jumento é nosso irmão, e o homem, em retribuição, o que é que lhe dá? Castigo, pancada, Pau nas perna, pau no lombo, pau no pescoço, pau na cara, nas oreia. Jumento é bom, homem é mau".
Sudeste versus Nordeste, ricos contra pobres, bossa nova versus forró, Jobim contra Gonzagão ou o que quer que seja, o Brasil que não se vê e não se reconhece em si próprio é o Brasil que segue rejeitando Luiz Gonzaga.

Por: Pedro Alexandre Sanches 




Dados Biográficos: 
[Site Oficial]


Gonzaga nasceu em 13 de Dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, em Exu, distante 603 Km da Capital Pernambucana. Segundo dos nove filhos da união do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus(Santana), veio ao mundo dividido entre a enxada e a sanfona. Foi observando seu pai animando bailes e consertando velhas sanfonas, que lhe desperta a curiosidade por tal instrumento. Certa vez seu pai encontrava-se na roça e sua mãe na beira do rio, o mesmo pegou uma velha sanfona e começou a tocar. Santana, que não queria que o filho trilhasse o mesmo caminho do pai, dava-lhe puxões de orelha que nada adiantavam. Luiz seguia em frente, acompanhando seu pai em diversos forrós, revezando-se com ele na sanfona e ganhando seus primeiros trocados. Um belo dia Januário foi pego de surpresa quando o Srº Miguelzinho, dono de um forró, pediu para que Gonzaga tocasse, este havia acordado com um outro tocador que não apareceu. A salvação foi convidar o então menino Gonzaga que já mostrara suas habilidades no mesmo terreiro, sem a anuência de seus pais. Fez muito sucesso. E por aquelas "bandas" era conhecido por Luiz de Januário. Assim o Forró rolou solto ao longo da noite, Gonzaga sentia-se feliz, empolgado, era a primeira vez que tocava com o consentimento da mãe. Com o passar da noite, começou a sentir seus olhos arderem, a cabeça pesar, foi então que pediu para deitar na rede e de tão menino que era, ainda fez xixi enquanto dormia. Daí então passou a acompanhar Januário em festas de mais responsabilidades, revezavam-se entre toques e cochilos. Santana a princípio relutava, mas deixou-se levar pelos dois mil réis que o principiante tocador ganhava em suas "empreitadas". Assim cresceu Gonzaga: ajudando o pai na roça e na sanfona, acompanhando Santana às feiras do Exu, fazendo pequenos serviços para os fazendeiros da região, sendo protegido pelo Cel. Manuel Aires de Alencar, homem bondoso e respeitado até por seus inimigos. Gonzaga era bem tratado pelos Aires de Alencar, tanto que suas primeiras escritas e leituras foram ensinamentos das filhas do Coronel.
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A PRIMEIRA SANFONA

 [Gonzaga e o Pai]
Foi o próprio Coronel Aires quem realizou o grande sonho de Gonzaga: possuir sua primeira sanfona. Tal instrumento custava a importância de cento e vinte mil réis, Gonzaga tinha só a metade, a outra o próprio Coronel adiantou, quantia esta paga mais tarde com o fruto do seu trabalho de sanfoneiro. O primeiro dinheiro ganho com a nova sanfona foi no casamento de Seu Dezinho, na Ipueira, onde ganhou vinte mil réis. Tal convite viera aumentar sua fama, começa ali a ser um respeitado sanfoneiro na região.
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O PRIMEIRO AMOR

Casamento? Gonzaga só pensava nisso. Comprou até aliança. Queria casar com Nazinha, filha do Seu Raimundo Milfont, um importante da cidade. O pai da moça ao tomar conhecimento das intenções do aprendiz de sanfoneiro, não permitiu o namoro. "Um diabo que não trabalha, não tem roça, não tem nada, só vive puxando fole". Gonzaga não hesitou, indignado, comprou uma peixeira, tomou umas truacas (cachaça), quis brigar, quis matar, mas acabou levando outra surra de Santana. Dessa vez fugiu triste para o mato, mas com uma idéia fixa na cabeça: entrar para o Exército.
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GONZAGÃO GANHA O MUNDO
Dizendo que ia a uma festa deixou a terra natal rumo ao Crato, no Ceará, cidade maior e mais próspera, onde vendeu a sanfona e pegou o trem para Fortaleza, alistando-se em seguida. Com a Revolução de 1930, o batalhão de Gonzaga percorreu muitos Estados até chegar à cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Ali, conheceu outro sanfoneiro, Domingos Ambrósio, o grande amigo que lhe ensinara os ritmos mais populares do Sul: valsas, fados, tangos, sambas. Gonzaga tirou de letra. Em 1939 deu baixa no Exército e seguiu para São Paulo e em seguida para o Rio de Janeiro. Passou então, a apresentar-se em bares da zona do meretrício carioca, nos cabarés da Lapa e em programas de calouros, sempre tocando músicas estrangeiras. Em uma dessas apresentações, um grupo de estudantes cearenses chamou-lhe a atenção para o erro que estava cometendo: por que não tocava músicas de sua terra, as que Januário lhe ensinara? Luiz seguiu o conselho e passou a tocar e compor músicas do Sertão Nordestino. Foi no programa do Ary Barroso que Gonzaga recebera calorosos aplausos pela execução do Vira e Mexe, música de sua autoria, proporcionando ao até então desconhecido Gonzaga o seu primeiro contrato pela Rádio Nacional, no Rio de Janeiro.
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SEUS AMORES
Na solidão da cidade grande, distante de sua família e do seu pé-de-serra, Gonzaga não dispunha de ninguém que dele cuidasse. Apesar de estar morando com seu irmão Zé, demonstrava vontade em construir seu próprio lugar, sua própria família. Teve diversos amores o mais conhecido foi com a corista carioca Odaléia Guedes, em meados do ano de 1945, tendo-a conhecida já grávida, assumindo e registrando como seu filho Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior - Gonzaguinha. Apesar de ser bastante exigente Gonzaga finalmente encontra o que procurava, Em 1948 conhece a pernambucana Helena Cavalcanti, tornando-a sua secretária particular e mais tarde sua companheira. Tal união estendeu-se até perto de sua morte. Não tiveram filhos, pois era estéril.
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O SUCESSO
O apogeu do Baião perpassou a segunda metade da década de 40 até a primeira metade da década de 50, época na qual Gonzaga consolida-se como um dos artistas mais populares em todo território nacional. Tal sucesso é devido principalmente à genialidade musical da "Asa Branca" (composição dele com Humberto Teixeira), um hino que narra toda trajetória do sofrido imigrante nordestino.
Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação.
Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira
A partir de 1953 Gonzaga passou a apresentar-se trajado com roupas típicas do Sertão Nordestino: chapéu (inspirado no famoso cangaceiro Virgulino Ferreira, O Lampião, de quem era admirador), gibão e outras peças características da indumentária do vaqueiro nordestino. Alia-se a esta imagem a presença de sua inconfundível Sanfona Branca - A Sanfona do Povo. Com o surgimento de novos padrões na música popular brasileira, o apogeu do Baião começa a apresentar sinais de declínio, apesar disso, Gonzaga não cai no esquecimento, pelo menos para o público do interior, principalmente no Nordeste. Todavia, foi o próprio movimento musical juvenil da Década de 60 - notadamente Gilberto Gil e Caetano Veloso, este último e depois Gonzaguinha regravando ambos o sucesso Asa Branca, responsáveis pelo ressurgimento do nome Gonzaga no cenário musical do país. Em março de 1972 em show realizado no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, marca o reaparecimento de Gonzaga para as platéias urbanas. Nessa época retorna às paradas de sucesso como "Ovo de Codorna" cuja autoria é do nordestino Severino Ramos.
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A VOLTA PARA CASA

Após longo período de atividade profissional, cerca de 35 anos, é chegada a hora de retornar a sua terra natal. Em Exu dá início à construção do tão sonhado Museu do Gonzagão, localizado às margens da BR-122, dentro do Parque Aza Branca (escrevia desta forma por pura supertição, embora soubesse do erro ortográfico). Lá se encontra o maior acervo de peças pertencentes ao Rei do Baião: suas principais sanfonas, inclusive a que tocou para o Papa em Fortaleza; suas vestimentas; seus discos de ouro; troféus; diplomas; títulos; fotos e presentes a ele ofertados ao longo de sua brilhante carreira. Além do Museu, o Parque abriga também o Mausoléu da família, lanchonete, grande palco de shows, várias suítes para acolhimento de visitantes, a casa de Vovô Januário, lojinha de souvenir e a casa grande de onde Gonzaga observava a sua pequena Exu.



quinta-feira, outubro 14, 2010

Carta da Profª. Angela Siqueira 

 

por Angela Siqueira*


Caros Colegas,
Na reunião do colegiado da pós, do mês de junho, foi distribuído um quadro com a “produção” de todos os professores e onde a minha “produção” do triênio, baseada nos anos de 2007 e 2008 aparecem zeradas, pois de fato o que enviei e foi aceito para publicação, ainda não foi de fato publicado. Por certo algumas coisas já foram publicadas em 2009 e outras ainda deverão vir, mas não é essa a questão e nem é com isso que me preocupo ou quero me preocupar.
Fiz uma retrospectiva de todas as atividades que venho desenvolvendo e decidi que estou satisfeita com elas, considero que tem qualidade e não quero me submeter a ser avaliada/carimbada fundamentalmente por um item, qual seja publicação, e em determinados veículos (qualis), num determinado tempo e numa determinada quantidade. Aliás acho até que venho trabalhando cada vez mais ( não só eu, mas a mioria dos professores universitários) e poderia trabalhar menos, mesmo mantendo a dedicação exclusva, que poderia se limitar às 8 horas diárias, sem muita extensão para as noites, madrugadas e finais de semanas. Mas, para ficar na pós, eu teria que trabalhar mais ainda e de forma mais direcionada, o que não me disponho, já que o que venho fazendo e não se encaixa no que “avaliação da capes” considera para o programa pontuar bem. Assim, no dia 30 de junho, enviei o e.mail abaixo para a coordenação da pós, solicitando minha mudança para colaborador e apontando minha saída futura do programa.
À Coordenação do Programa de Pós-graduação em Educação da UFF
Andei pensando muito e creio o que venho fazendo há alguns anos, em especial em termos de produção do conhecimento e sua divulgação, não segue o modelo CAPES de avaliação, que privilegia publicações em determinados veículos e não debates públicos, forma que mais utilizo.
Nesse sentido, participei de vários debates em mesas com outros colegas de academia de distintas universidades do Brasil e do exterior (UNAM, UBA, Stanford, Teachers College/Columbia, Harvard, Penn, Toronto, etc); com representantes de organismos internacionais, como o Banco Mundial, UNESCO, OCDE; com reitores; representantes do ANDES, ANDIFES, PROIFES, UNE, UBES, MEC/ SESu/REUNI, empresários da educação, economistas, sociólogos, deputados federais, etc. Também participei de entrevistas para jornais, programas rádio e de TVs.
Certamente que para cada um desses debates e entrevistas para os quais fui convidada tive que preparar textos, slides, que sempre enviei e envio aos que pedem, deixo cópias e troco com outros colegas e disponibilizo para alunos.
Introduzi no Programa uma discussão mais consistente sobre organismos internacionais e educação, o que tem gerado e/ou contribuído para várias monografias de graduação, especialização, mestrado e doutorado na UFF e fora da UFF, bem como no exterior.
Venho dando aulas na graduação e na pós todos os semestres, além de ter orientandos de graduação, mestrado e doutorado.
Também tenho dado pareceres para revistas e journals no Brasil e no exterior, bem como em comitês de eventos acadêmicos, como a ANPEd e SBPC.
Fui membro de bancas de avaliação de TCs, dissertações e teses, na UFF e na UERJ.
Participei de bancas de concursos públicos para seleção de professores (UFF e UFRJ), bem como de credenciamento, esta na UFRJ.
Tenho algumas publicações no Brasil e em outras países (EUA, Alemanha, Inglaterra), e minha tese e outros trabalhos são citados em teses e publicações de outros países, como Itália e Canadá.
Além dessa parte mais acadêmica, por várias vêzes contribuí para a vida universitária, trabalhando em funções administrativas (mas sem jamais deixar de dar aulas ou realizar pesquisas), e atualmente estou como titular nos colegiados de curso e de unidade, além de no conselho universitário, onde fui indicada para duas comissões ainda não instaladas: uma sobre política de segurança da UFF e outra sobre as fundações de apoio na UFF. Também estou na coordenação do NEDDATE e por algum tempo estive como representante do Campo Trabalho e Educação na Compós, como representante na seleção ao mestrado e membro do Campo na seleção ao doutorado.
Enfim, creio que venho cumprindo com o que me cabe como professora com DE numa universidade pública, desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa, extensão, além representação em órgãos deliberativos internos.
Não tenho a preocupação de buscar um “veículo qualis” para enviar um texto para publicação e nem de ter que obedecer uma definição heterônoma, mas já incorporado e aceita por todos os programas de pós-graduação, sobre quando, como e onde publicar. Mais ainda, não considero que essa seja a única ou mais importante forma de divulgar e colocar em debate o conhecimento produzido, seja pelos pares, pela sociedade ou pelos “ímpares”. Nesse sentido, vejo que não me encaixo na atual perspectiva de avaliação do trabalho docente, que se baseia na lógica do “publish or perish”, e solicito minha mudança para professor colaborador, informando que não vou mais oferecer vagas e que pretendo sair da pós-graduação assim que concluir as orientações que assumi. No entanto, continuarei desenvolvendo meu  trabalho na UFF, exceto dar aulas e orientar na pós, mas me permitindo ser mais feliz, mantendo a coerência de meu trabalho, a articulação teórico-prática, o tempo acadêmico para reflexão e produção e o engajamento político, sem ter que me encaixar/submeter a uma forma de medição de produtividade  como forma e fôrma única para avaliar o trabalho docente e nem ao tempo definido por metas de produtividade a serem atingidas, que para esta avaliação não só foram duplicadas, como também ainda tem que ser submetidas a novidade da trava. 
* Docente na UFF. 
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